Sunday, February 18, 2018

Diagnóstico e tratamento TEP por Natália Yuriê

TROMBOEMBOLISMO PULMONAR

Definição
Tromboembolismo Pulmonar (TEP) consiste na obstrução aguda da circulação arterial pulmonar pela instalação de coágulos sanguíneos, geralmente oriundos da circulação venosa sistêmica, com redução ou cessação do fluxo sanguíneo pulmonar para a área afetada, gerando como principal complicação a hipertensão pulmonar. Essas condições inter-relacionadas constituem o tromboembolismo venoso (TEV) no qual, a trombose venosa profunda (TVP) é o evento básico e o TEP, a principal complicação aguda.

Fisiopatologia
Sua fisiopatologia está intrinsecamente ligada à da trombose venosa profunda (TVP). Sendo assim, os fenômenos tromboembólicos (TVP+TEP) compartilham os mesmos fatores de risco. A clássica Tríade de Risco de Virchow (estase sanguínea, lesão vascular e hipercoagulabilidade) reflete a importância da genética e dos fatores ligados ao ambiente na gênese do tromboembolismo venoso (TEV). Assim, doenças como a resistência à proteína C ativa, deficiência das proteínas C e S, antitrombina III e plasminogênio, presença de anticorpos antifofolípidios, elevação da concentração do fator VIII, imobilização prolongada, cirurgia, trauma, câncer, uso de contraceptivos, gravidez, puerpério, obesidade, acidente vascular cerebral, lesão da medula espinhal e permanência de cateter venoso central são cenários e situações favoráveis ao desenvolvimento de TEP.

Apresentação Clínica
O espectro da apresentação clínica é bastante amplo. Em 90% dos casos a hipótese de TEP é sugerida pela presença de dispneia, dor torácica tipo pleurítica e taquipneia, sozinhos ou em associação. A dispneia e a dor torácica podem ser súbitas ou ter evolução ao longo de dias ou semanas. Síncope é rara, no entanto sua presença está relacionada a quadros mais graves que podem se apresentar também com hipotensão e/ou parada cardíaca. Dor pleurítica e hemoptise estão relacionadas com o infarto pulmonar. Dor precordial anginosa pode estar presente e pode indicar isquemia do ventrículo direito. Taquipneia e taquicardia sinusal são os achados de exame físico mais prevalentes. Já os sinais de hipertensão pulmonar (veias do pescoço túrgidas, P2 hiperfonética e impulso do VD palpável) são mais raros, porém mais específicos. Devido à forte associação entre as condições, sinais e sintomas de TVP (dor, edema, empastamento muscular) também devem ser pesquisados.

Diagnóstico
O diagnóstico é feito com base no quadro clínico, na história familiar e história prévia de TVP. A partir da suspeita de TEP agudo, deve-se proceder à determinação do grau de probabilidade de confirmação diagnóstica por meio de escores. O mais usado é o escore de Wells para TEP.
O escore de Wells utiliza a combinação de sete variáveis obtidas através de história clínica e exame físico. Esta probabilidade quando combinada com os resultados do dímero-D tem implicação significativa na condução diagnóstica dos pacientes com suspeita clínica de TEP. Se a probabilidade de TEP for baixa, está indicada a solicitação do D-dímero. Se D-dímero negativo, exclui-se o diagnóstico de TEP.
Se positivo, deve-se continuar a investigação com exames de imagem. Com alta probabilidade de TEP, deve-se seguir a investigação com exame de imagem sem a solicitação prévia de D-dímero.
 Os exames complementares inespecíficos são: ECG, RX tórax, D-dímero, gasometria arterial. Já os específicos são cintilografia V/Q, ecocardiograma, angiotomografia helicoidal (primeira escolha), duplex scan de MMII e arteriografia pulmonar (padrão ouro).

Tratamento
Pacientes com suspeita de TEP e hemodinamicamente instáveis devem receber suporte hemodinâmico e respiratório adequados. A anticoagulação deve ser iniciada tão logo seja sugerido o diagnóstico e a probabilidade clínica seja intermediária ou alta. A rápida obtenção de anticoagulação plena depende do uso de medicações parenterais, principalmente a heparina não fracionada e as de baixo peso molecular. Antagonistas da vitamina K devem ser iniciados junto com os agentes parenterais para obtenção precoce de anticoagulação oral efetiva. Pacientes com TEP hemodinamicamente instáveis devem receber tratamento com trombolíticos o mais precocemente possível.
As embolectomias cirúrgica e percutânea também são tratamentos válidos, com sua principal indicação nos pacientes que apresentam contra-indicação ao uso de fibrinolíticos ou mesmo sem resposta à sua infusão.
Em pacientes hemodinamicamente estáveis e com sinais de disfunção do VD no ECO, o uso de fibrinolíticos é controverso.

A implantação de filtros de veia cava é terapia alternativa, que só deve ser indicada em casos de contra-indicação absoluta de anticoagulação plena ou naqueles com eventos tromboembólicos de repetição na vigência de anticoagulação efetiva.