Tuesday, January 2, 2018


SÍNDROME CORONARIANA AGUDA


Por Natália Yuriê Iwanamoto.

Definição
A doença isquêmica do coração é a principal causa de morte em todo o mundo, responsável por 7,4 milhões de óbitos anuais, correspondendo a 13,2% de todas as mortes. No Brasil, a doença isquêmica do coração também é a principal causa de óbito, sendo responsável por 31% das mortes cardiovasculares.
A síndrome coronária aguda (SCA) envolve um largo espectro de condições clínicas que incluem desde a isquemia silenciosa, passando pela angina aos esforços, a angina instável até o infarto agudo do miocárdio com ou sem supradesnivelamento do segmento ST. A angina instável e o infarto do miocárdio são as síndromes caracterizadas por pior prognóstico, com maior chance de sequelas e risco aumentado de óbito. A doença cardiovascular no Brasil é responsável por cerca de 1/3 de todas as mortes registradas segundo dados do DATASUS.
Fisiopatologia
Apesar da diferenciação da SCA em três formas clínicas, todas dividem, na maioria dos casos, o mesmo substrato fisiopatológico da ruptura da placa aterosclerótica e consequente trombose superposta, produzindo isquemia miocárdica aguda. Entretanto, em alguns pacientes o fenômeno isquêmico decorre de prolongada redução do fluxo coronário por vasoespasmo arterial localizado ou difuso ou por trombose aguda, na ausência de substrato aterosclerótico angiograficamente visível. O conhecimento destes processos é importante não só para o adequado tratamento da SCA como também para sua prevenção.
Quadro clínico
A apresentação típica é caracterizada por dor precordial em aperto à esquerda, irradiada para o membro superior esquerdo, de grande intensidade e prolongada (maior do que 20 minutos), que não melhora ou apenas tem alívio parcial com repouso ou nitratos sublinguais. Pode estar associada à sudorese fria, náusea, dor abdominal ou lipotimia. A irradiação para mandíbula, membro superior direito, dorso, ombros e epigástrio também é possível.
A duração tem importância central, uma vez que as dores com duração superior a vinte minutos e sem momentos de melhora, direcionam para um diagnóstico de maior gravidade, já que induz a possibilidade maior de interrupção completa do fluxo sanguíneo coronariano. Contudo, a dor intermitente que cessa espontaneamente, principalmente aquela que se iniciou nos últimos dias ou horas, também é sugestiva de doença coronária com episódios de isquemia aguda.
Os sintomas típicos estão presentes apenas numa parcela dos pacientes. Em diabéticos, idosos ou pacientes no período pós-operatório, o infarto pode ocorrer na ausência de dor, mas com náuseas, mal-estar, dispneia, taquicardia ou até confusão mental.
Exame físico
O paciente apresenta-se ansioso e com agitação psicomotora em função do desconforto precordial. A ausculta cardíaca pode revelar taquicardia (fator de pior prognóstico), sopros valvares (em virtude de disfunção valvar isquêmica) e terceira bulha (associada com insuficiência ventricular aguda). Ela também serve como base para comparação com possíveis alterações posteriores geradas por complicações mecânicas (rotura de septo, insuficiência mitral, etc). Hipotensão pode ser um sintoma de choque cardiogênico inicial. Ausculta de estertores pulmonares em pacientes dispneicos é um sinal de falência ventricular em pacientes de alto risco.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito com base no quadro clínico, nas alterações eletrocardiográficas e na elevação dos marcadores bioquímicos de necrose. Tendo em vista que os sintomas são extremamente variados e que a elevação dos marcadores se inicia cerca de seis horas após o início da dor, o principal instrumento diagnóstico e determinante da conduta é o eletrocardiograma. Ele deverá apresentar o supradesnível do segmento ST ou o bloqueio agudo de ramo esquerdo, critérios suficientes para desencadear a tentativa imediata de reperfusão.
Na síndrome coronariana aguda sem elevação do ST (SCASEST) o paciente apresentará dor torácica típica com alteração eletrocardiográfica sugestiva de isquemia (infradesnivelamento do segmento ST e/ou alteração na onda T) ou mantém-se com eletrocardiograma (ECG) normal. No paciente com dor torácica e ECG normal deve-se estratificar o risco cardiovascular (TIMI ou GRACE), que vai definir a necessidade de estratégia invasiva precoce ou de melhor avaliação do grau de isquemia.
Modelo de Atendimento

Fonte: Socesp 2016
Tratamento- Intervenção Terapêutica Inicial
Medidas gerais
        Obter acesso venoso calibroso;
        Repouso no leito nas primeiras 12 a 24h. Se estável hemodinamicamente, sem arritmias e sem recorrência da dor torácica por 12 a 24h, liberar para levantar do leito;
        Monitorização eletrocardiográfica contínua;
        Oxigênio suplementar – apenas em paciente congestão pulmonar, dispneia, cianose ou SatO2 < 90%;
        AAS mastigado, nitrato e morfina– se não houver alívio da dor com nitratos, usar morfina 2 a 4 mg a cada 5 a 15 minutos, se necessário, para redução da ansiedade e atividade autonômica, diminuindo a demanda metabólica do miocárdio Lembrar que o uso de morfina e de nitrato é contraindicado se houver sinais de disfunção de VD ou PAS menor que 100 mmHg.
        Ansiolíticos – não tem indicação de uso indiscriminado.
De acordo com o quadro do paciente o tratamento será realizado por meio de: Terapia de recanalização coronária, antiplaquetários, antitrombínicos, beta bloqueadores, inibidores da enzima de conversão da angiotensina, nitratos ou estatinas.

Referências Bibliográficas
BASSAN, F. BASSAN, R. Abordagem da Síndrome Coronariana Aguda. Revista da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul. Ano XV, nº 07 Jan/ Fev/ Mar/ Abr 2006. Disponível em <http://sociedades.cardiol.br/sbc-rs/revista/2006/07/Artigo03.pdf > Acesso em: 22/10/17.

ISSA, A. F. C. de OLIVEIRA, G. M. M. ABREU, L. M. ROCHA, R. M. ESPORCATTE, R. Síndrome Coronariana Aguda (SCA). MAC- Manual de Atualização e Conduta. São Paulo, PlanMark, 2015. Disponível em: <https://socerj.org.br/wp-content/uploads/2015/11/manual-de-conduta.pdf> Acesso em: 22/10/17.

FONSECA, F. A. H. IZAR, C. M. O. Fisiopatologia das Síndromes Coronarianas Agudas. Revista da SOCESP, volume 26, nº 2, abril/ junho de 2016. São Paulo. Disponível em: <http://www.socesp.org.br/upload/revista/2016/L60-REVISTA-SOCESP-V26-N2-12-07-16.pdf> Acesso em: 22/10/17.

PESARO, A. E. P. SERRANO JR, C. V. NICOLAU, J. C. Infarto Agudo do Miocárdio: Síndrome Coronariana Aguda com Supradesnível do Segmento ST. Revista Associação Médica Brasileira 2004, 50 (2): 214-20. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ramb/v50n2/20786> Acesso em: 22/10/17.

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