Por André Borges de Freitas Dupim e Janaína Amaral Guimarães
As doenças cardiovasculares são as principais causas de morte no Brasil. Diante do cenário, há um elevado impacto econômico em custo para o sistema de saúde pública e previdência social. Apesar de avanços nos últimos anos em ações de prevenção, tratamento e reabilitação, ainda assim, anualmente muitas vidas são perdidas no Brasil relacionado à parada cardíaca e eventos cardiovasculares em geral.
Algumas medidas podem ser aplicadas pelos profissionais de saúde a fim de minimizar a morbimortalidade por doenças cardiovasculares. O conhecimento e a prática do Suporte Básico de Vida no âmbito pré-hospitalar e o início precoce do Suporte Avançado de Vida em Cardiologia no âmbito hospitalar são de fundamental importância, e podem fazer diferença no desfecho dos casos, como sobrevida hospitalar sem sequelas neurológicas.
A parada cardiorrespiratória (PCR) consiste na interrupção súbita das funções cardiopulmonares. Trata-se de uma emergência médica extrema, cujos resultados podem levar a lesão cerebral irreversível e/ou morte, caso as medidas corretas para restabelecer o fluxo sanguíneo e a respiração não sejam realizadas corretamente. Esta publicação tem como objetivo resumir dos principais pontos de discussão e alterações do Suporte Avançado de Vida Cardiovascular (ACLS) na Atualização das Diretrizes de 2015 da American Heart Association (AHA) para Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) e Atendimento Cardiovascular de Emergência (ACE).
Suporte Avançado de Vida (ACLS)
Vasopressores para ressuscitação: administrar epinefrina, tão logo possível, após o início da PCR devido a um ritmo inicial não chocável. A administração de vasopressina em combinação com epinefrina não demonstrou vantagem em relação ao uso isolado de epinefrina na PCR. Por motivos de simplificação a vasopressina foi removida do protocolo.
Capnografia: Pode ser utilizada como um parâmetro para avaliar quando a equipe dever terminar os esforços de reanimação cardiopulmonar em pacientes com via aérea avançada. Em pacientes intubados, após 20 minutos de RCP, um teor de dióxido de carbono ao final da expiração (ETCO2) não superior a 10 mmHg está associado a uma probabilidade muito baixa de ressuscitação, resaltando o fato de que este parâmetro não deve ser usado isoladamente para tomar decisões.
Ventilação e compressões torácicas durante a RCP: Na presença de via aérea avançada, recomenda-se a realizar de 10 ventilações por minuto, o que equivale 1 ventilação a cada 6 segundos. Quanto às compressões torácicas, são aplicadas de modo contínuo na frequência de 100 a 120/min, na profundidade de 5 a 6 cm, observando retorno da parede torácica após cada compressão, evitando-se apoiar-se no tórax entre as compressões e procurando minimizar interrupções entre as compressões torácicas.
RCP extracorpórea: Embora as evidências sejam pequenas, pode ser considerada em determinados pacientes com PCR (pacientes com doença potencialmente reversível ou pacientes que aguardam por transplante cardíaco) que não tenham respondido a RCP convencional.
Tratamento medicamentoso pós-PCR: Lidocaína. O uso de lidocaína após o retorno da circulação espontânea ainda é controverso, portanto, não recomenda-se seu uso de rotina. Pode considerar o seu uso após a o retorno da circulação espontânea causada por uma PCR em FV/TVPSP.
Tratamento medicamentoso pós-PCR: B-bloqueadores. Não deve-se fazer o uso rotineiro de B-bloqueador em todos pacientes. Os pacientes devem ser avaliados individualmente para saber se estão aptos para receber B-bloqueador, pois pode causar ou agravar a instabilidade hemodinâmica, exacerbar a insuficiência cárdica e causar bradiarritmias. Quando considerar o uso, administra-se B-bloqueadores oral ou EV após hospitalização causada por uma RCP devida a FV/TVSP.
Esteróides: Embora não esteja recomendo seu uso rotineiro, pode conferir algum benefício quando administrado juntamente com vasopressina e epinefrina diante de uma PCR intra-hospitalar. Neste caso, faz uma combinação de vasopressina 20 UI + epinefrina 1 mg a cada 3 min, e no primeiro ciclo uma dose de metilprednisolona 40 mg. Após o retorno da circulação espontânea, o paciente deve ser mantido com hidrocortisona 300 mg por 7 dias.
Apesar de estudos indicarem uma progressiva redução na mortalidade por doenças cardiovasculares, o Brasil ainda possui uma elevada taxa de mortalidade por agravos cardiovasculares. A prestação de um serviço médico por meio de uma equipe capacitada tecnicamente e aperfeiçoada no tratamento em ressuscitação, de acordo com as mais recentes Diretrizes, aliada a ações que intensificam o controle de fatores de risco e promoção à saúde, são elementos primordiais para redução da mortalidade e obtenção de maiores chances de sucesso e sobrevida.
Referências:
- Highlights AHA Guidelines 2015: http://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-AHA-Guidelines-Highlights-Portuguese.pdf
- GONZALEZ, M.M. et al. I Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia: Resumo Executivo. Arq Bras Cardiol. v.100, n.2, p.105-113, 2013. http://www.arquivosonline.com.br/2013/10002/pdf/10002001.pdf
- http://www.uptodate.com/contents/advanced-cardiac-life-support-acls-in-adults